Aproxima-se o 1º de Dezembro. Uma data nacional que sempre foi assinalada com diversas solenidades, principalmente nas escolas, onde todos os alunos aprendiam e cantavam com entusiasmo o conhecido “Hino da Restauração”.
Aquando do duplo centenário da Independência e Restauração, em 1940, Portugal comemorou a data com diversas monumentos.
O Poeta Pe. Moreira das Neves, além de muitos poemas, a propósito, publicados na Imprensa, lançou a ideia de se construírem Cruzeiros em todos os concelhos de Portugal a registar a dupla efeméride.
Essa a razão primeira e altamente patriótica da construção do Cruzeiro que se encontra à entrada desta vila, já que a estátua que nela devia ser erguida, se desviou para outro concelho. Mas isso não vem hoje para o caso. Importa, antes, realçar o significado histórico do Cruzeiro da Restauração e Independência de Portugal. (Falta-lhe a placa indicativa que lá existia e que foi retirada, talvez por se encontrar fendida; todavia assim havia sido colocada, como, infelizmente, chegou de Lisboa.)
E tanto mais é de recordar o extraordinário feito, quanto nos custa aceitar que o histórico acontecimento vai passar ao esquecimento com a abolição do feriado comemorativo. Na realidade não se compreende que isso aconteça, quando outros de somenos importância histórica se mantêm, gaudiosamente. É caso para se perguntar: Onde está o patriotismo dos governantes portugueses?
Todos os historiadores dão relevo à Restauração de Portugal. É um feito nacional que qualquer nação se orgulharia de comemorar.
Portugal preocupa-se em manter dois feriados que assinalam revoluções internas, mas relega aquela que restaurou a independência da nação, livrando-a do jugo estrangeiro. Será que a Troika aqui também teve influência? Talvez já não importe a soberania da Nação?
“Sob ao domínio dos Filipes a situação de Portugal, esmagado de impostos, agrava-se cada vez mais e torna-se lamentável. A Miséria do povo e o seu desenvolvimento chegam ao apogeu e começam a traduzir-se em tumultos...” (1) E há quem julgue que a história se não repete...
No dia 1 de Dezembro de 1640, pelas nove horas da manhã, os quarenta conjurados, além dos seus aderentes, em número de 120, assaltaram o Paço da Ribeira, guardado pelos castelhanos que dominavam Portugal há sessenta anos, imobilizaram o secretário da vice-rainha Duquesa de Mântua, Miguel de Vasconcelos, que estava escondido num armário, abateram-no e lançaram-no à rua. E foi então que outro Miguel, D. Miguel de Almeida, do alto do balcão principal, proclamou a liberdade da Pátria e a realeza de D. João, Duque de Bragança, aclamado como D. João IV, Rei de Portugal.
Era o fim do domínio estrangeiro. A Nação retomava a sua independência que nunca mais seria perdida.
Portugal comemora esse feito glorioso há 372 anos! (2)
Será que vamos regressar a 1639 e ficar de novo subjugados por domínios estrangeiros? Surgirão novos Miguéis de Vasconcelos a trair a Pátria lusa?
Portugal vive, na realidade, momentos aflitivos. Não está iminente uma guerra de armas mas outra não menos mortífera: a subsistência das suas gentes. A derrogação dos seus direitos e prerrogativas. A ausência de respeito pelos direitos, liberdades e garantias do seu povo.
Desapareceu a época gloriosa das descobertas e conquistas. Dela ficou, quase somente, o poema de Camões. Mas esse também anda esquecido com a introdução de novas maneiras de expressar a língua pátria.
Estamos reduzidos a uma faixa de terreno na Península Ibérica, “à beira mar plantada” e a uns pináculos no meio do Atlântico, sujeitos às intempéries atmosféricas e às tropelias políticas dos governantes, até que um dia apareçam os novos traidores da Pátria.
Deixem-nos ao menos o feriado do 1º de Dezembro a recordar esses feitos e memórias gloriosas que trouxeram a Portugal a restauração e a independência.
1) “Pequeno Dicionário de História de Portugal”, dirigido por Joel Serrão.
2)Serrão, Joaquim Veríssimo – “História de Portugal” Vol. V, 1980
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